CaíPrazer, eu sou Cayo e para que esta estória comece tem algumas pessoas que vocês precisam conhecer. Na verdade para que qualquer história comece é fundamental e até indispensável, que o ser humano conheça alguém, monólogo é ficção, só existe no teatro, não na vida real. Eu descobri isso aos quinze anos quando conheci o Michel, o Miguel e o João. Antes eu ria de piada sem graça que via na televisão por não ter motivos mais importantes ou verdadeiramente engraçados para rir, quando eu os conheci eu continuei rindo de piadas sem graça, mas agora as piadas parecem fazer sentido, não sei se acontece com você, mas muitas vezes eu rio de quem conta a piada, e lógico rio do momento que pincela a piada e dá a graça que ela não teria em outra situação.
Michel é o mais experto da turma, o mais inteligente, por ser mais velho terminou os estudos um ano a nossa frente, Aff... Nós ainda estamos na escola, ele não estudou conosco, mas sempre nos ajudou com os trabalhos da escola. Seu irmão Miguel se acha muito forte, é o defensor da turma, ele diz, até consegue nos livrar de alguns perigos com a galera da escola, mas é sempre na conversa, nunca usou a força, tem o João que é o calado e por fim eu, o mais complexo, talvez você me compreenda, talvez não, é o risco que todos correm ao me conhecer. A verdade é que depois de descobrir que precisava de companhia eu me tornei quase dependente desses caras e o bacana é que isso é recíproco, nós somos cúmplices em tudo, brigamos muito até, mas sempre rimos depois de superar. O João é que sempre diz que podemos rir, mas devemos respeitar o tempo da mágoa, acredito que é por isso que somos amigos até hoje, nós nunca escondemos ferida aberta, então se começamos a brincar com o que aconteceu ele sempre pergunta se realmente superamos.
Bem é hora da estória começar...
06h45min, sábado, todo mundo cansado da semana sobrecarregada de atividades, Michel no celular, a musica/toque é boa então para dormir mais um pouco eu prefiro acreditar que não é ninguém importante, ou que a música que eu gosto está tocando no radio que o vizinho sempre liga as cinco da manhã, na semana até me ajuda a acordar, mas no sábado ele não liga e depois de três tentativas frustradas, na quarta chamada eu resolvo atender a ligação. Não é legal acordar sentindo vontade de matar alguém, por isso sem encontrar uma palavra melhor atendo dizendo:
-Eu te perdoo, o que quer em pleno sábado, seis e cinquenta da madrugada, Michel?
- Vem aqui em casa, e traz o João.
Sem dizer mais nada ele desligou, acho que não gostou de ter demorado a atendê-lo, fiquei curioso por que sábado nós sempre nos víamos a noite, de manhã nós dormíamos, não no caso do Miguel, esse tirava a manhã e a tarde para dormir, o cara acordava às quatro da tarde.
Sete da manhã e o João me liga:
- Você sabe o que está acontecendo com o Michel?
- Não, por que?
-Ele me ligou agora, o que já não é normal, e parece que ele tinha chorado, o que também é impossível acontecer se não houver um motivo muito forte.
-Ele me ligou também e senti que ele estava diferente mesmo, mas também não me disse nada além de pedir que eu fosse com você na casa dele, vamos agora?
-Sim, eu passo ai.
Poucas vezes choramos, e o Michel parecia querer ostentar o título de durão, não por querer ser superior, ele até é, sua maturidade diante da nossa o fazia modelo para nós, mas ele se revestia de durão para que nós nunca perdêssemos o ânimo, foi sempre assim, parecia pai, o forte que não sofre, nem sente dor por que tem gente para cuidar, ele não se achava no direito de sofrer junto, ele sempre sofria sozinho e depois, porém hoje foi diferente, ele sofreu primeiro, Por quê?
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