O João chegou rápido parecia muito preocupado, ele poucas vezes era tão pontual, o que aumentou mais ainda o frio angustiante que sentia na barriga, em poucos minutos chegamos à casa dos meninos.
O Miguel nos atendeu e mandou-nos entrar, ele parecia triste por isso ficamos paralisados na porta, então o João, para quebrar o silêncio que se fez na porta, pediu licença para entrar.
- O que está acontecendo?- Eu perguntei.
- Pergunta o Michel...- Disse o Miguel confundindo nossa cabeça, ele agora parecia está raivoso.
O Michel chegou, nos cumprimentou e disse:
- Acho que vocês não estão entendendo nada, não é?
-Com certeza- Eu e o João respondemos simultaneamente.
O Miguel saiu da sala.
- O Miguel não está aceitando, mas eu preciso começar minha vida- ele emudece como quem segura as palavras para que o choro não as acompanhe.
-O que está acontecendo cara?- Eu disse- Nós continuamos sem entender, sem poder fazer nada para ajudar.
- Vocês não podem ajudar, nem precisa, o que aconteceu foi que... eu passei no vestibular, e as aulas começam na semana que vem em Fortaleza, a matrícula é na segunda.
-E você vai? Eu disse sem conseguir esconder minha tristeza e tentando calar meu desejo egoísta de ele não decidir ir embora.
Miguel é uma espécie de pai para nós, de certa forma nós não estamos perdendo só um amigo, ele é mais que isso, a diferença de idade entre nós não é grande, dois anos apenas, mas tudo que nós vivemos ele viveu primeiro, então tinha muito pra nos ensinar.É muito forte a ligação que nós temos com ele, nem o pai do Miguel era visto por ele como ele via o Michel.
A raiva de Miguel até o momento incompreendida por nós começou a tomar conta de mim naquele momento, sem perceber eu me vi tomado por uma montanha de outras opções que o Michel poderia escolher, e acabei por alguns segundos acreditando que ele não precisava ir embora se quisesse. No longo silêncio que se fez naquela sala, eu analisei todas as outras possibilidade e vi que nenhuma delas era madura o bastante, daí eu percebi o quanto a vida é cruel, assim como a mãe-passarinho precisa fazer o filhote aprender a voar voando, o nosso melhor amigo precisava ir. Por que os amigos têm que dá certo longe d’a gente? Eu me perguntei, eu parecia mais maduro depois daquele silêncio e abracei o Michel, que também abraçou o João. O Miguel depois de uma conversa que disse ter tido na cozinha com sua mãe também se uniu a nós no abraço mais forte e mais significante de todos, acho até que nunca nos abraçamos, tapinha nas costas era o mais próximo de um abraço, mas agora despidos de todo o machismo nós só queríamos aproveitar cada segundo daquele dia, daquele abraço, daquele amigo.
Só tínhamos o resto do sábado e o domingo. Depois disso eu, Miguel e o João tínhamos que aprender a voar sozinhos, naquele momento eu me imaginei no ninho sendo jogando pela mãe-pássaro, nós tínhamos asa, podemos voar e o Michel em um longo discurso naquela sala, o melhor e maior que ele já fez, nos fez acreditar nisso. Mas o dia não terminou e resolvemos viver os dois dias mais incríveis da nossa vida até então.
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